Hora de caminhar - Hora de caminhar com Jon M. Chu

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Jon M. Chu: Andar sempre me motiva. Há um certo som do cascalho, da grama, das folhas soprando e do barulho das árvores, e você pode ouvir pássaros nos arbustos ou lagartos correndo através deles. E para mim, esses são os lembretes de que você não está sozinho, que existe um planeta e vidas ao seu redor e que você é uma parte disso.

Caminhar meio que restabelece uma conexão com a realidade, com o planeta Terra.

[INTRO MÚSICA]

Sam Sanchez: É Time to Walk, onde algumas das pessoas mais interessantes e inspiradoras do mundo compartilham histórias, fotos e músicas que influenciaram suas vidas. Jon M. Chu é o diretor de “Crazy Rich Asians”, o primeiro grande filme de Hollywood desde os anos 90 a apresentar um elenco majoritariamente asiático em uma história moderna. Nesta caminhada, Jon fala sobre o reconhecimento inesperado que recebeu de dois visionários e como a abordagem de sua própria identidade cultural levou a um avanço criativo.

[SOM DA CAMINHADA]

Jon M. Chu: Então, estamos em uma caminhada ao longo desta montanha perto do oceano, onde as colinas de Los Angeles se encontram com o Oceano Pacífico. O sol ainda não está se pondo, mas se aproximando um pouco mais. Há uma brisa suave. Você pode ver alguns falcões voando em busca de comida. E vamos chegar a um ponto em que esperamos ver toda Los Angeles.

[SOM DE CAMINHADA]

Eu cresci nas colinas de Los Altos, Califórnia, na Bay Area, e eu era o mais novo de cinco filhos, e a TV estava sempre ligada. E sempre íamos ao cinema ou íamos a um show na cidade. Era a temporada de musicais, de ópera, ou de balé. O entretenimento estava sempre ao nosso redor. E a pessoa que procurávamos em toda essa arte que estava ao nosso redor, a que provavelmente teve o maior impacto sobre nós, foi Steven Spielberg.

Havia uma visão dos Estados Unidos que ele tinha em “E.T.” ou “Contatos Imediatos" ou mesmo “Goonies” que nós concordávamos. Era uma grande aventura, e os Estados Unidos eram o melhor lugar, e todos podiam ter uma família e trabalhar duro e encontrar um pouco de magia em suas vidas.

Isso tocou muito a minha… a minha vida, e quando aprendi a pegar uma câmera e percebi que podia falar com esta câmera, que podia editar com ela, eu imediatamente… Sabe, Spielberg era o tal. Onde ele estudava? Como você se torna Steven Spielberg? Como você se torna o Hans Christian Andersen de nosso tempo? E assim eu vi que ele era um grande apoiador da Escola de Cinema da USC. E então era para lá que eu queria ir. Me inscrevi e fui para lá.

E enquanto estava lá, fiz alguns curtas-metragens, e meu último curta-metragem foi um… foi um musical, sobre a vida secreta das mães, uma coisa meio aleatória. Eu adorava musicais. E eu estava me formando. E então, recebi a ligação que todos os formandos da USC querem ouvir, dizendo: “Ei, Steven Spielberg viu seu curta-metragem e adoraria encontrar com você”. Eu tinha literalmente 21 anos, talvez 22 naquele momento, e era uma sexta-feira à noite, 18h00. Estávamos olhando os brinquedos da “Guerra das Estrelas” em sua sala de estar, e recebi uma ligação de meu agente dizendo: “Sim. Então, o escritório dele ligou. Eles afirmam que ele assistiu, mas nós não sabemos se é verdade ou não. Portanto, não pensem nisso o fim de semana todo”.

Você diz isso para mim? Estou pensando nisso durante todo o maldito fim de semana. E eu não consegui dormir naquela noite, e no dia seguinte, recebi uma ligação de meu agente novamente. Ele disse: “Jon, eu sei que disse para não pensar nisso o fim de semana todo, mas eles continuam ligando, e ele realmente quer conhecer você. Então, você consegue se encontrar com ele?" Eu pensava: “Em qualquer lugar. Você me diz onde. Eu vou”. Naquela época eu tinha um velho Previa, um Toyota Previa, um monovolume da minha família, todos os bancos traseiros estão soltos, e há manchas por toda parte. Eu disse: “Eu estou indo. Você me diz onde”.

Então, na noite anterior, domingo à noite, eu liguei para meu melhor amigo, Jason Russell. Ele também foi para a escola de cinema e talvez ame Spielberg mais do que eu. E eu o coloco a par de tudo. Ele ficou tão feliz por mim. E então eu fui à Dreamworks, que fica no lote da Universal, e pensei: “Tudo bem, estou aqui”.

Entrei e me apresentei. “Estou aqui para ver Steven”, o que é uma loucura dizer. Quer dizer, eu tinha 21 anos de idade, literalmente. Estava surtando. E então eu esperei, e eles me levaram para uma sala pequena. E eu fiquei ali sentado sozinho por talvez, não sei, alguns minutos, e então Steven Spielberg entra direto e simplesmente se senta e fala comigo. E nós falamos sobre musicais. Falamos de filmes. Ele me disse que seu musical favorito era “Oliver Twist”, e começou a cantar uma das canções dele. E eu estava em “Oliver Twist”. Eu interpretei o Oliver asiático em “Oliver Twist” quando eu estava no colegial. Então eu também conhecia a letra da música, e nós a cantamos juntos, se… se você puder imaginar isso. Era um pouco estranho, mas tão incrível.

Depois disso, fiquei pensando: “Tenho uma idéia para um musical que gostaria muito de discutir com você”. E ele disse: “Ótimo. Que tal esta sexta-feira”? Eu disse: “Perfeito”. E então voltei para o apartamento, e meu amigo ainda estava lá, e eu disse: “Jason, você e eu vamos voltar para apresentar nosso musical”.

Eu nunca havia lançado nada em Hollywood antes. E assim nós entramos. Levamos um baú de fantasias que abrimos, e enquanto apresentávamos, pegamos fotos e as colocamos sobre a mesa. E também tínhamos figurinos, chapéus e perucas e praticamente atuávamos como “Moulin Rouge”, onde eles corriam por aí, dah, dah, dah, dah, dah, dah, fazendo uma apresentação. Foi uma loucura.

No final, havia fantasias por toda parte, fotos por toda parte, e fizemos “Ta-da, compre essa ideia”. E ele não poderia ter sido mais simpático. Ele disse: “Isso foi incrível”. E nós não sabíamos se ele iria alguma vez comprar. Eles deixaram a sala.

Estávamos tão felizes naquela sala. Tiramos fotos em toda a sala de reuniões. Fizemos poses de nós sobre a mesa.

E alguns dias depois, recebi o convite para ir visitar Steven no set porque ele estava filmando “Terminal”.

E então eu fui até… Eles estavam filmando em um hangar gigante, e eu entrei. As portas do hangar se abrem, portas gigantes, e você entra. E, quero dizer, um set do Steven Spielberg é incrível. Não é uma fachada. É como se você estivesse literalmente em um aeroporto. O nível de detalhes me deixou chocado.

E fui até lá, e eles disseram: “Por aqui”, e Steven colocou uma cadeira para mim ao seu lado, ao lado do monitor. E ele disse: “Ei, Jon, bem-vindo. Venha sentar-se”. Repito, eu sou um zé-ninguém. Mas eu tenho que fazer-lhe perguntas como: “Por que você está filmando esta cena?” E ele dizia: “Bem, eu já fiz a outra, então só estou captando este ângulo”. Sem hesitação da parte dele, a propósito. E a melhor parte é que posso ver quando os problemas acontecem. Então, eu estou sentado lá, e tomada… Eles descem as escadas e a cena fica certa.

E eu consegui vê-los entrar em uma pequena confusão sobre como a câmera deveria funcionar ou como… E em vez de ficar discutindo o que fazer e tentar a tomada repetidas vezes, Steven simplesmente parou a coisa toda, reajustou, dividiu a tomada em duas, e eles voltaram ao trabalho. E eu pude ver como um líder se comunica em um momento de incerteza de uma forma tênue. E, ao final do dia, ele disse: “Jon, tem sido ótimo”. Volte sempre que quiser. Tenha um ótimo dia".

E nunca vou esquecer a maneira como ele me tratou, porque quando conheço jovens cineastas, sempre me lembro disso. Esse é um poder tão grande… do Sr. Spielberg.

E todas as idéias do que são os Estados Unidos, o poder da criação, de se expressar, o poder de contar histórias em que fui criado de repente se uniram neste ser humano que estava à minha frente e, de certa forma, fizeram com que não fosse mais um conto de fadas. Ele fez disso uma realidade. E o fato de que eu sabia ou tinha um exemplo em minha mente muito cedo em minha carreira que você poderia ser essa pessoa, que você não precisa ser cínico, e que você não precisa ser duro com as pessoas para conseguir o que você precisa ou o que você quer, que você pode fazer isso com gentileza e você pode fazer isso com imaginação e criatividade, e você ainda pode atingir esse nível de feitiçaria, que me deu todo o combustível que eu precisava durante toda minha vida, para saber que existe alguém assim.

A gentileza dele comigo foi real, e nossa responsabilidade de passar isso para os outros sempre ficará comigo.

[SOM DA CAMINHADA]

Eu cresci nos anos 80 e 90 no Vale do Silício, antes de haver um Vale do Silício, onde tudo girava em torno de engenheiros e da construção de um futuro melhor.

E meus pais são imigrantes. Eles vieram da China e de Taiwan e fundaram um restaurante em 1969. O restaurante ainda está lá, hoje, há 50 anos, o Chef Chu’s está lá. E eu basicamente cresci no restaurante. Eu vinha da escola, era deixado no restaurante, dobrava guardanapos, fazia meus deveres de casa. E as pessoas entravam, e sabiam que, “Ah, o filho do Chef Chu adora fazer filmes”.

E assim eles entravam e diziam ao meu pai: “Ei, nós temos este software beta e este hardware beta. Quando terminarmos, podemos dar a você para dar ao seu filho, e ele pode fazer filmes nesta forma digital nova”. E assim eu me beneficiava dessas incríveis ferramentas em uma idade muito jovem e tinha a capacidade de cortar coisas e fazer dissoluções e fazer efeitos especiais antes que qualquer um da minha idade conseguisse.

E eu realmente acho que foi isso que me permitiu avançar e aprender muito rapidamente como usar a linguagem. Fui criado pelo Vale do Silício para ir a Hollywood, de certa forma, antes de o Vale do Silício ter qualquer interesse em ir a Hollywood.

E algo que fazíamos como uma família todos os anos era assistir juntos ao Oscar. Isso era um sonho, ir ao Oscar.

Então, anos depois, recebi o convite para ir ao Oscar, e tive acesso VIP. Meus assentos eram terríveis. Mas eu tinha que ir. E nunca vou esquecer, pelo canto do olho, vi Steve Jobs passar por mim. Eu não apenas amo o Steve Jobs. Eu vi cada uma de suas palestras. Eu faltei às aulas para ir ao Macworld ano após ano no ensino médio. E assim, não consegui me conter e segui Steve Jobs enquanto ele entrava na área do bar para VIPs. Fiquei com muito medo. Eu não queria falar com ele. Acho que ele nem sequer gosta de falar com estranhos.

E meu amigo Harry Shum Jr. disse: “Confie em mim. Eu trabalhei em 20 comerciais de iPods. Vou só falar com ele”. Então ele foi, agarrou meu braço e disse: " Olá, Steve, este é meu amigo Jon. Ele realmente quer conhecê-lo", o que foi o pior. Eu não sabia por onde começar, e comecei assim: “Você sabe, eu… eu cresci em Los Altos, e minha família tem um restaurante chamado Chef Chu’s”.

E ele disse: “Você é meu vizinho, eu amo aquele lugar. Eu conheço aquele lugar”. E eu disse: " Ah, meu Deus. Graças a Deus". E ele era tão gentil, e ele… Eu pensava: “Sabe, as coisas que você faz realmente me ajudaram a me tornar um cineasta”. E seus dispositivos me deram, literalmente, uma voz". Eu disse: “Eu até memorizei seu comercial, seu comercial ‘Pense diferente’”. E ele disse: “Ah, sério?”. Eu disse: “Sim, é uma espécie de mantra que eu digo todos os dias para mim mesmo”. E ele disse: “Jon, muito obrigado”. Ele estende a mão, e nós apertamos as mãos. Ele diz: “Significa muito ouvir isso de um vizinho”.

Mas eu definitivamente senti isso. E o fato de eu poder falar literalmente sobre o hardware e o software dele que me levaram a ser cineasta e a entrar nesta sala em Hollywood ao mesmo tempo que ele, de empresário para empresário, não posso deixar de pensar no reconhecimento de que éramos vizinhos, de que tínhamos raízes comuns, de certa forma, é estranho falar assim do Steve Jobs. Mas parecia que havia um entendimento disso entre nós. Houve uma troca de: “Você conseguiu, cara”.

Não pensei sobre isso na época, mas acho que muitas vezes olhamos para além de nossos quintais para nos inspirarmos, quando na verdade a coisa que nos fez, a comunidade ao nosso redor, a fonte que nos deu a necessidade de ir fazer coisas ou fazer algo, está bem na nossa frente.

E voltar à minha própria comunidade e ver quais histórias precisam ser contadas ou quem precisa ser empoderado é uma responsabilidade tão grande para um contador de histórias quanto a própria história. E, de fato, isso me fortalece como pessoa criativa. Isso me traz de volta à fonte do que me motiva, das histórias que eu quero contar e preciso contar.

Então, eu penso que quando você está olhando para sua própria vida e para o que você precisa e o que vai lhe dar esse poder, eu digo para olhar para sua própria comunidade porque eu acho que ela já lhe deu tanto e há muito que ela pode lhe dar agora mesmo.

[SOM DE CAMINHADA]

Entre o encontro com Steven Spielberg e a realização de meu primeiro filme foram cinco anos, cinco anos de, a cada seis meses, eles prometeram que vão fazer seu filme nos próximos seis meses.

Então, depois do quarto ano, você acha que perdeu sua filmagem. E no quinto ano, você não sabe mais o que fazer. E aconteceu que, naquele momento, eu recebi um roteiro. Foi uma sequência de filmes de dança lançada diretamente em DVD que eu literalmente rejeitei e disse: “Eu não faço filmes de dança ou sequência de filmes de dança nem filmes lançados em DVD.”

Eu falei com minha mãe sobre isso e ela disse: “Quando você se tornou um esnobe?”. Ela disse: “Você nunca fez nada”. E daí que você conheceu Steven Spielberg? Você não é um contador de histórias até contar histórias, e se for esse o caso, então você pode contar histórias de qualquer maneira". E isso definitivamente me fez reavaliar e disse: “Você está certo. Eu vou fazer a melhor sequência de filmes de dança lançados em DVD de todos os tempos”. "

E foi isso que me levou ao “Ela Dança, Eu Danço 2” e ao mundo dos estúdios durante anos, o que foi ótimo até que um filme não não foi tão quanto eu esperava, talvez um dos piores fins de semana de todos os tempos em filmes de estúdio. E isso me fez questionar tudo o que eu estava fazendo, porque doía muito. De certa forma eu tinha que descobrir: “Por que eu faço isso?”.

Eu havia passado anos aprendendo como fazer um filme, mas quase nenhum desses anos descobrindo quem eu era como artista ou o que eu queria dizer como ser humano. Apenas me senti sortudo por estar lá.

E assim fui em busca do que seria o tema. E pensei: “Qual é a coisa mais assustadora a ser enfrentada?” E isso sempre foi a minha crise de identidade cultural.

Ninguém gosta de se sentir diferente na escola, muito menos quando sua comida tem cheiro no armário e as pessoas chamam a sua atenção, ou quando seus pais dizem certas coisas em inglês que não são gramaticalmente corretas, e ainda assim você entende porque você cresceu em torno disso. E quando você diz isso na aula, você é ridicularizado. Ninguém gosta de ser o outro. E eu percebi aos 30 anos que esses sentimentos ainda vivem em mim.

Mas eu vi este tweet de #StarringJohnCho de um cara, William Yu, e era… era um tweet simples. Ele fez cartazes de John Cho como 007 ou como o Homem de Ferro ou como personagens principais em filmes. E a questão era: por que isso não está acontecendo? Ele é uma estrela de cinema. Ele é um protagonista, e não está em nenhum desses filmes. E de repente, parecia que meu cérebro tinha sido quebrado. É como quando você vê algo, e você não pode… você não consegue desvendar, e seu cérebro muda por causa disso.

E eu percebi: “Eu faço parte desse problema porque já estive nas salas onde as pessoas dizem que você não pode contratar esta ou aquela pessoa porque ela não vende internacionalmente ou não faz sentido para o negócio”. Agora, tendo estado no negócio, eu posso pensar por mim mesmo e entender que isso na verdade não é verdade e que, para torná-lo factual, tivemos que provar isso, e a única maneira de fazer isso é fazer um filme.

E assim eu prossegui nessa busca de que… com qual filme eu poderia contar minha história, mas não ser minha história? E encontrei este livro, “Podres de Rico", que me foi recomendado por muitas pessoas: minha mãe, meus primos, meus… meus amigos. E eu o li, e adorei.

Encontramos Kevin Kwan, o autor, e falamos muito sobre a representação asiática e a idéia de que, se estivéssemos criando esses personagens, um homem asiático, desejável, ao contrário da maioria dos homens asiáticos representados nos filmes de estúdio de Hollywood na época, como faríamos isso? E como fazer isso entrar em um filme, e como fazer o marketing por trás dele para enviar essa mensagem para o mundo?

E houve um tempo em que fomos a todos os estúdios com um roteiro, despertou muito interesse, o que foi realmente surpreendente para nós. E tivemos que escolher. Chegamos a dois, um… um estúdio tradicional, a Warner Bros. que o lançaria no cinema, e uma plataforma de stream. E a plataforma, é claro, ia gastar tanto dinheiro.

Era dinheiro que mudaria a minha vida. Do outro lado seria no cinema, mas tínhamos que fazer uma campanha de marketing, um risco maior.

E decidimos pela plataforma dizendo: “Vamos fazer uma última oferta”, e a Warner Bros. dizendo: “Vocês estão demorando demais. Vamos fazer uma oferta, nossa oferta final, e vocês têm 20 minutos para responder. E se não o fizerem, a oferta está descartada”.

Assim, colocamos todos os advogados, todos os gerentes, em uma teleconferência esperando pela oferta. E a oferta chegou, e a oferta da plataforma é melhor do que jamais haviam oferecido antes, mais a oportunidade de trabalhar em sequências além de outras promessas de marketing. A Warner Bros. apresentou uma oferta mais baixa do que a deles quatro dias antes.

E assim, todos os advogados nos pressionaram a aceitar a oferta da plataforma. “Mais pessoas, este é o futuro”. Por que você arriscaria qualquer coisa? Por que você arriscaria o futuro do entretenimento asiático-americano neste único filme? É uma comédia romântica. Não vai mudar o mundo".

Então isso me colocou numa posição difícil. Mas queríamos que os asiático-americanos fossem convidados para o grande espetáculo. Queríamos que eles fossem colocados no museu do cinema. E, se eles pudessem sair, isso mudaria tudo.

Tivemos que conseguir que uma corporação gigante gastasse dezenas de milhões de dólares para dizer ao mundo que isto é importante, e estes personagens e estes atores são estrelas de cinema. Tivemos que correr esse risco.

E nós dissemos isso, e fizemos esse acordo. E nunca vou esquecer de dizer que escolheríamos a Warner Bros.

E temos que reunir os melhores talentos asiáticos-americanos em todo o mundo e colocá-los neste filme.

E o maior momento foi quando esse filme realmente saiu. E foi quando eu soube que tomamos a decisão certa, quando o público apareceu. Acabamos de fazer um filme, mas as pessoas fizeram o movimento e começaram a trazer suas avós e suas mães.

E lembro-me de ir ao cinema naquele primeiro fim de semana, e não só as pessoas iam e riam e choravam no cinema, mas quando saíam, e estavam todos bem vestidos, aliás, e não apenas asiáticos, pessoas de todas as classes sociais e idades… Eles apareciam e não saíam do cinema. Apenas ficavam no saguão e conversavam sobre isso.

E esse é o poder do cinema, quando aquela palavra de boca em boca começou a se espalhar, e todos tinham que ver esses personagens, eles tinham que fazer com que seus amigos viessem experimentar isso, e de repente normalizou uma família asiática. Não se pode perder isso de vista.

Eu também tive essa experiência com meu irmão, quando ele assistiu ao filme. Sabe, ele é sempre o crítico mais difícil. Ele tem, tipo… Ele tem 1,80 m, atlético, e nunca está triste ou preocupado ou algo parecido. Ele é a rocha.

E eu mostrei o filme para ele, e no momento em que Nick Young sai da mansão com seu terno branco, é como ver Leo DiCaprio saindo em “Titanic”, o cara mais legal, o cara mais bonito e charmoso. E meu irmão começou a chorar. E eu disse: “O que está havendo?”. Ele disse: “Nunca vi um homem asiático representado assim antes, e, na minha infância, nunca pensei que veria. Você se sente tão feio e subvalorizado. Você simplesmente se sente tão diferente”. E ele disse: “Quando o vejo, é uma estrela de cinema. O mundo inteiro vai querer ser como ele”.

Então, ouvir histórias de outras pessoas vivenciando a mesma coisa é… é muito comovente para mim. O filme mudou completamente o meu rumo e o que eu quero fazer ou o que eu deveria fazer. E eu percebi que nunca mais poderia fazer outro filme que não significasse tanto para mim.

E quero que minha filha e meu filho saibam o que eu fiz neste momento. O que você fez? Você estava ouvindo? Você acabou de fazer outro filme, ou você fez algo que dialogou com essa coisa que todos estão pedindo ajuda? E eu quero ser a pessoa que pelo menos tenta.

Eu não sou a pessoa mais brilhante. Não sou a pessoa mais criativa, mas estou nesta posição, e posso tentar fazer o meu melhor para que a próxima geração possa ver coisas que ainda não conseguimos ver.

[SOM DE CAMINHADA E PÁSSAROS CHAMANDO]

Estamos então chegando ao nosso destino nestas colinas onduladas e douradas. Isso me lembra muito onde eu cresci e brincava com todos os meus brinquedos. Foi definitivamente onde eu aprendi mais sobre contar histórias, foi brincando com meus brinquedos neste mesmo tipo de colinas.

A vista daqui é provavelmente a maior e mais ampla vista que eu já vi de Los Angeles, do oceano e das ilhas lá longe, Catalina, até o centro da cidade, onde aqueles edifícios parecem muito pequenos a partir daqui.

O reflexo do oceano é simplesmente lindo. Parece um vidro manchado agora. Dá para sentir o poder do oceano neste instante.

A música é um elixir emocional para mim. É como um software para meu coração onde, quando ouço, ela me leva a algum outro lugar ou me faz lembrar de sonhos de quando eu era criança ou de um momento difícil. E às vezes é bom sentir essas coisas, saltar para aqueles momentos de sua vida e agora você pode ter uma perspectiva sobre essas coisas. De certa forma, eu sinto que é muito saudável mergulhar nessas emoções.

Houve um período por volta dos meus 20 anos em que parecia que minhas oportunidades tinham passado. São nesses cinco anos que eu não quero pensar. Mas foi durante esse tempo que realmente escutei muito Nick Drake, e ele falava comigo em outro nível. Elas não eram apenas músicas bonitas. Na verdade, eram músicas muito sombrias, e isso me ajudou a superar muito disso. E a música que mais me tocava, a mais linda mas também melancólica, era “One Of These Things First”.

[MÚSICA - “ONE OF THESE THINGS FIRST” DE NICK DRAKE]

Quando eu estava me preparando para meu primeiro filme, “Ela Dança, Eu Danço 2”, eu estava nervoso, estava assustado. E muitas vezes uso a música como inspiração enquanto faço um brainstorming ou um roteiro. E a música do Nas “I Can” tocava com frequência na minha playlist. E isso realmente me inspirava quando eu encontrava todos aqueles dançarinos de rua, porque eles… eles trabalhavam duro. Eles vinham de todos os lugares da vida. Eles viviam de salário em salário, mas encontravam sua arte todos os dias, e havia tanta esperança naquela comunidade. Então, “I Can” era como um hino. Até hoje, ouvi-lo me dá vontade de trabalhar mais, e agora, com as crianças, significa ainda mais para mim.

[MÚSICA - “I CAN” DE NAS]

Quando comecei a filmar “Podres de Ricos", passei muito tempo na Malásia, e pude absorver a música, as pessoas, a comida, e isso realmente abriu meus sentidos. E uma dessas pessoas que eu adorava era Yuna, uma incrível artista de lá. Sua música é tão cheia de alma, e ela canta uma música com Usher chamada “Crush”. Para mim, é como um chá quente na sua caminhada. É reconfortante, é morno. É se apaixonar, quando os pêlos de sua pele se levantam e você não se preocupa com mais nada além da pessoa ao seu lado porque, no fundo, o segredo de nossas vidas, na minha opinião, é estar com alguém por quem você está sempre se apaixonando.

[MÚSICA - “CRUSH” BY YUNA FT. USHER]

Então estamos chegando ao fim desta caminhada, e não me sinto cansado. Sinto que houve momentos nesta caminhada que foram cansativos, mas quando seu sangue começa a correr, você fica mais desperto. Quero ir… Quero escrever algo ou fazer alguma coisa agora mesmo. Eu adoro esta sensação. O meio é sempre o mais difícil. Mas o vento sempre dá uma sensação incrível, saber que você chegou lá.

Obrigado por me acompanharem na caminhada de hoje.